quinta-feira, 17 de março de 2011

O Japão e as tragédias humanas

O recente terremoto no Japão seguido de um violento tsunami, faz a gente pensar na fragilidade humana diante da fúria da natureza.
Acredito que todos concordam que o povo japonês é um povo virtuoso, no sentido de ser dedicado, trabalhador, inteligente e prevenido.
Na sua luta pela sobrevivência e pelo desenvolvimento, em condições muito difíceis, ele aprendeu muito e se preparou bastante para as adversidades.
Não falta ao povo japonês aquilo que os antigos e os pensadores do Renascimento chamavam de “virtú”. Ela era uma deusa grega e romana: uma mulher simples, modesta, vestida de branco, com o peito direito nu, sentada sobre uma pedra quadrada. Levava uma lança e uma espada, tinha uma estátua de ouro em Roma.
Um homem de “virtú” ou um povo de “virtú” estava menos sujeito aos caprichos da sorte, do azar, da “fortuna”. Esta também era uma deusa grega e romana. Para Aristóteles, filósofo grego, a “fortuna” é um caso particular de azar. Para os romanos ela tinha grande poder sobre os negócios humanos, podendo ajudar ou destruir os homens como força volúvel e caprichosa. Era implacável e indiferente às conseqüências do acaso.
Maquiavel, pensador italiano, não foge à tradição clássica de caracterizar a condição humana como uma luta entre a vontade do homem (“virtú”) e os caprichos da sorte, do destino (“fortuna”). De um lado, o que depende do homem, de seus méritos, de sua capacidade, de seu esforço; de outro lado, o que não depende do homem e sim da natureza, das circunstâncias, da sorte, do acaso.
Sobre a “fortuna”, Maquiavel dizia: “Comparo-a a um desses rios impetuosos, que quando encolerizam, alagam as planícies, destroem as árvores, os edifícios, arrastam montes de terra de um lugar para outro, tudo foge diante dele, tudo cede ao seu ímpeto, sem poder obstar-lhe e, se bem que as coisas se passem assim, não é menos verdade que os homens, quando volta a calma, podem fazer reparos e barragens, de modo que, em outra cheia; aqueles rios correrão por um canal e ao ímpeto não será tão livre nem tão danoso”.
Apesar da crença de Maquiavel na força humana, o que diria ele diante das ondas do mar de 12 metros de altura, acima dos diques, que atingiram o nordeste do Japão ? O ímpeto da “fortuna”, as vezes, é descomunal, mas a “virtú” faz o homem aprender, às vezes, com muita dor e sofrimento.

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