quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As tempestades e as desigualdades

A relação homem e natureza é conflituosa. De tempos em tempos, catástrofes gigantescas atingem os humanos: erupção do vulcão Vesúvio em 79, o terremoto de Lisboa em 1755, o de São Francisco em 1906 e do Haiti em 2010, dentre tantos outros fenômenos. 

Agora, no ínicio do ano, nevascas fortes atingiram os EUA e Europa; enchentes na Colômbia, Venezuela, Brasil; parte da Austrália está debaixo d’água; inundações na Índia e Filipinas, etc. A natureza, o clima estão em revolta. Alguns atribuem estas calamidades a mudança climática em decorrência do aquecimento global. Segundo uma empresa de resseguros, o número de desastres relacionados a fenômenos climáticos saltou de 317 a 828 de 1980 até agora. Cerca de 10 milhões de pessoas são afetadas por enchentes e enxurradas no mundo por ano e as mudanças climáticas tendem a multiplicar esses números.

Vários estudos mostram o aumento das chuvas fortes em várias regiões do Brasil, entre eles o sudeste, que no início deste ano foi castigado por fortes chuvas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

O aumento do solo de asfalto e concreto retendo calor; ocupações irregulares de encostas, vales, beira de córregos e rios; omissão e conivência do poder público com as ocupações desordenadas; entulho e lixo jogados nas ruas, córregos, rios ajudam a explicar essas tragédias.

Como regra a população mais simples, trabalhadora é a maior vítima nestes acontecimentos com as exceções de sempre. No processo de industrialização e urbanização do país não se planejou a vida urbana dos trabalhadores.

Como disse a presidente Dilma Roussef: “A moradia em área de risco é regra, não é exceção”. Sem falar em 30 mil mortes no trânsito por ano, 40 mil homicídios, 20 mil mortes por diarréia, milhões de desempregados, etc. O descaso com a morte e o sofrimento de parte dos trabalhadores é secular. As tragédias, com grande cobertura da mídia apenas põe em destaque aspectos de um fenômeno social que muitas vezes fica escondido. Hoje, são mais de 19 milhões de pessoas deslocadas no mundo por tragédias climáticas: a maioria pobre.

Um aspecto importante da urgente reforma urbana é a questão de prevenção das catástrofes naturais que sempre existirão. Dos 5.565 municípios do Brasil apenas 1.000 tem Defesa Civil. Ao fazer o raio x do Plano Nacional de Redução do Impacto de Desastres Naturais o governo brasileiro admitiu para a ONU – Organização das Nações Unidas o despreparo da Defesa Civil Brasileira: 10 vezes mais gastos com emergência do que com a preservação. Há 500 áreas de risco de deslizamento e 300 ameaçadas de inundações no Brasil.

No entanto, chuvas e secas são fenômenos climáticos previsíveis e mensuráveis graças à tecnologia, aos satélites e outras ferramentas. É preciso adaptar a Defesa Civil, na área federal, estadual e municipal aos novos tempos. O poder público não pode estar ausente antes, nem durante e nem depois da tragédia. Um bom começo: o governo federal anunciou a criação de um Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais.

Como dizia Francis Bacon: “A natureza não se vence a não ser quando se lhe obedece”. “Decifra-me ou devoro-te” ! diz ela como a esfinge

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