quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Estamos mais iguais ?

llAlgumas notícias recentes trataram da questão da redução da pobreza e da desigualdade entre os brasileiros.  A chamada classe “E”, cujos membros da família recebem até R$ 79,00 por mês, representa em 2011 menos que 1% dos 49 milhões de domicílios do país; em 1998 eram 8% dos lares. Em 10 anos foram 10 milhões de pessoas a menos na classe “E”. Neste período (1998 a 2011) os domicílios da classe “D” caíram de 33,6% do total para 15,1%. Já os domicílios da classe “C” subiram de 31% para 49%; os da classe “B” de 18% para 30%.
Houve uma redução da pobreza extrema e da pobreza. Alguns analistas citam como fatores que contribuíram para estas mudanças os programas sociais do governo, tipo “Bolsa Família”, “Brasil sem Miséria”, etc. Além disso, os reajustes do salário mínimo acima da inflação que no período de 1998 a 2011 foi de 75,6%; o crescimento da formalização do emprego (o aumento de empregos com carteira assinada) e maior acesso ao crédito seriam outros fatores econômicos que contribuíram para a redução da pobreza. Segundo o governo, nos últimos anos foram incorporados no mercado de consumo cerca de 40 milhões de pessoas . O governo federal anunciou a ampliação dos programas sociais para mais 320 mil famílias além dos 13,2 milhões de famílias já atendidas. O governo federal pretende também abrir neste ano cerca de 300 mil vagas em cursos profissionalizantes para pintores, eletricistas, jardineiros, etc, dentro da política de inclusão produtiva. O governo estadual tem programa semelhante. 
Esses avanços são suficientes para alterar em profundidade a estrutura reconhecidamente desigual da sociedade brasileira? Embora o Brasil já seja a 6ª economia do mundo a renda per capta do brasileiro, em 2011, é U$ 11 mil enquanto a dos Estados Unidos é de U$ 42 mil e a da Noruega é de U$ 86 mil.
Quando se examina o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 169 países o Brasil ocupa a posição 70. Conforme estudos de um banco suíço, no Brasil 5% da população mais rica controla 50% da renda, enquanto os 50% dos mais pobres ficam com 5% da renda.
Os brasileiros mais ricos, gastaram em suas viagens para o exterior, em 2011, cerca de U$ 22 bilhões (quase 40 bilhões de reais) em compras de produtos estrangeiros. Valor maior do que a soma de todas as exportações brasileiras em café e soja. Projeta-se que em 2016, o Brasil terá 815 mil milionários que disporão para gastos de R$ 1 trilhão, enquanto os gastos com o Bolsa Família para 52 milhões de pessoas são de R$ 17 bilhões.
Três estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais) em 27 estados controlam 52,5% do PIB brasileiro; cinco cidades brasileiras em 5.564 cidades controlam 25% do PIB (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte). Como se nota, a jornada em busca de um Brasil mais justo e mais igualitário é difícil, complexa e será longa.

Mário Luiz Guide é professor universitário, formado em filosofia na USP e em Direito pela Unifieo, com doutorado na USP em Ciências Políticas. É vereador em Osasco e secretário geral do PSB no estado. www.marioguide.com.br

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Como mudar o mundo?

llPor ocasião da morte de Steve Jobs, um dos inovadores do mundo da computação e da atual revolução digital, foi lembrada uma passagem de sua vida, quando ele tentava trazer um alto executivo da “Coca-Cola” para a sua empresa. Ele teria dito: “Você quer passar o resto de sua vida vendendo água açucarada ou quer ajudar a mudar o mundo”? Para ele, mudar o mundo era avançar a tecnologia da informação.
Neste mesmo sentido, ia a sua crítica ao bilionário Bill Gates, da Microsoft, outro pioneiro do mundo da computação. Bill Gates resolveu se dedicar à filantropia e, através de uma Fundação, tentar melhorar a educação no mundo e, em especial, a produção de alimentos na África. Steve Jobs mais uma vez disse que preferia investir na inovação tecnológica.
Quem de fato estava mudando o mundo? O produtor de refrigerantes que cria novos hábitos de consumo? O produtor de novas tecnologias? Ou o filantrópico que busca reduzir as desigualdades e a pobreza do mundo? Eles de fato estão mudando o mundo?
Estas perguntas vêm a propósito do livro do historiador inglês Eric Hobsbawn intitulado “Como mudar o mundo”. O livro é uma análise sobre “Marx e o Marxismo de 1840 a 2011”, publicado pela Companhia das Letras. Marx, pensador alemão, havia dito que os filósofos tentaram interpretar o mundo de várias formas mas o importante era transformá-lo. Mudar o mundo para Marx era superar o sistema capitalista, era fazer a transição do Capitalismo para o Socialismo através da luta política da classe trabalhadora e de seus partidos.
Ele fazia uma análise abrangente da sociedade capitalista, examinando sua relação econômica. Duas críticas se destacavam ao modo de produção capitalista: Primeiro, o capitalismo tornava cada vez mais social, mais global, a produção de mercadorias e, no entanto, a apropriação do resultado desta produção, a apropriação do lucro era privada, beneficiava apenas alguns. Em segundo lugar, a empresa capitalista em seu interior era muito organizada, e seria cada vez mais organizada; mas, o mercado era muito desorganizado e gerava crises permanentes: da superprodução ia para a recessão com desemprego, etc.
Para superar essas questões, Marx propunha a socialização da produção e do lucro e um planejamento da produção, duas questões importantes para o socialismo.
Segundo Eric Hobsbawn, o capitalismo não consegue oferecer soluções para os problemas do século XXI e, por isto, Marx deve ser levado a sério. 

Mário Luiz Guide é professor universitário, formado em filosofia na USP e em Direito pela Unifieo, com doutorado na USP em Ciências Políticas. É vereador em Osasco e secretário geral do PSB no estado. www.marioguide.com.br

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

2012 e a Política

llO ano de 2012 inicia-se com muita incerteza na área econômica. Em geral os analistas prevêem uma recessão na Europa (-0,3%), um crescimento muito pequeno nos Estados Unidos (1,3%) e no Japão (2%) e uma desaceleração na China (8,2%), para focar apenas nos principais atores econômicos internacionais. Ocorrendo estes fatos, o crescimento brasileiro previsto é na ordem de 3,5% do PIB.
A área política também aguarda acontecimentos importantes neste ano.
A eleição presidencial americana, pelo peso econômico, militar, político e cultural dos EUA, é um acontecimento político significativo. A eleição será em novembro e o presidente democrata Barack Obama disputará a reeleição contra um candidato republicano. A disputa promete ser bastante acirrada e polarizada. Terá conseqüências importantes para o mundo.
Na Europa, em março haverá eleição presidencial na Rússia. Deve haver uma troca de papéis entre o atual presidente Dimitri Medvedev que cederá seu lugar para o atual primeiro-ministro e líder de fato Vladimir Putin. Considerando várias manifestações de protestos que ocorreram no final do ano passado podem surgir novos fatos políticos.
Em Abril, será a vez das eleições presidenciais na França. O atual presidente Nicolas Sarkozy é o candidato conservador à reeleição e enfrentará o candidato do Partido Socialista Francês, François Hollande. Dada a crise econômica européia, esta eleição poderá influenciar a maneira de se lidar com ela. Sendo necessário haverá um segundo turno no inicio de maio.
Em outubro, ocorrerá o Congresso do Partido Comunista Chinês. A previsão é a renovação de 70% das lideranças do partido. Como a China vem se tornando um ator importante na política econômica internacional, este fato político é bastante relevante. A China é o principal parceiro comercial do Brasil.
Na América Latina, em Julho, ocorrerão as eleições presidenciais no México. Deve haver uma disputa entre os candidatos do PAN - (Partido da Ação Nacional-conservador) do PRI - (Partido Revolucionário Institucional-tradicional) e do PRD - (Partido da Revolução Democrática-esquerda). Em outubro será a eleição da Venezuela, quando Hugo Chavez disputará outra reeleição.
No Brasil um fato político importante são as eleições municipais de 7 de outubro de 2012. Serão renovados os mandatos de vereadores e prefeitos em 5.564 municípios.
Em Osasco, também em 7 de outubro, haverá eleição para prefeito e vereadores.
Em 19 de fevereiro, Osasco completará 50 anos, um resultado político da luta dos autonomistas. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

2011: O Povo na Rua

O ano de 2011 terminou. Como todos os anos, ele foi um ano de muito trabalho, de muita luta, de batalha pela sobrevivência, pelo menos para a grande maioria das pessoas. Mas, quando se observa o panorama mundial, 2011 se destaca como ano de muitas manifestações populares.
Tendo como pano de fundo o agravamento da crise financeira internacional, principalmente na Europa, várias manifestações ocorreram em muitos destes países, notadamente, na Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, etc. O alto desemprego, os programas de demissão de funcionários, a falta de perspectiva, principalmente para os jovens, foram fatores que impulsionaram o povo ir para as ruas, expressando sua indignação.
Nos Estados Unidos, maior economia do mundo, persistem os sintomas da crise imobiliária e financeira de 2008/2009. Com desemprego elevado e considerando que o capital financeiro, responsável pela crise, conseguiu que o governo pagasse, em grande medida, com o dinheiro do povo, os custos da crise, estes fatos causaram descontentamento em vários setores o que desencadeou o movimento “Ocupe Walt Street”, com manifestações populares em várias cidades americanas. Os manifestantes se colocavam como expressando os sentimentos dos “99% explorados pelo 1% de bilionários”, que causaram a crise e se beneficiaram dela.
Entre as conseqüências políticas da crise financeira e das manifestações houve a queda do governo conservador na Itália e a queda dos governos socialistas em Portugal e Espanha após as eleições.
 O ano de 2011, praticamente começou com grandes manifestações populares no mundo Árabe. Iniciou na Tunísia, onde um vendedor de frutas tendo sua mercadoria apreendida e não devolvida, colocou fogo no seu corpo e veio a morrer. As sucessivas manifestações derrubaram o governo. Seguiram uma série de manifestações populares por todo o Norte da África e no Oriente Médio. Além da Tunísia caiu o governo do Egito, da Líbia, do Yêmen. A revolta do Bahrein foi sufocada pelas tropas da Arábia Saudita e a crise persiste na Síria. A busca da liberdade e melhores perspectivas de vida, principalmente para os jovens, moveram as massas Árabes.
Merecem destaque também a luta dos estudantes chilenos pela melhoria da educação e a do povo russo por liberdade e por eleições limpas e sem fraudes.